Nascido na sexta-feira, o pequeno Lucas deve cada batida de seu
coraçãozinho a duas mulheres. Uma é sua mãe, Sílvia Rodrigues Escobar,
24 anos. A outra é sua avó paterna, Thamara Dias Goulart, 46. A primeira
lhe deu a vida. A segunda, não deixou que sua vida fosse embora. Além
de fazer o parto do neto – dentro de um carro, a meio caminho entre São
Borja e Santiago –, por duas vezes naquele dia, Thamara daria o ar de
seus pulmões para que o menino não morresse.
O nascimento foi atribulado. Sílvia, que mora em Santa Maria, passava
férias na casa dos pais, em São Borja, quando, no início da semana,
apresentou sintomas de pré-eclâmpsia (doença que provoca hipertensão em
gestantes). A mãe foi hospitalizada e recebeu medicamentos para apressar
a maturação dos pulmões do bebê. Na quinta-feira, recebeu alta do
médico, que autorizou o retorno para Santa Maria. Coube a Thamara, que é
enfermeira obstétrica, fazer o transporte da gestante. Ainda bem. A
viagem começou por volta das 9h15min. Às 10h, o bebê estava nascendo,
aos sete meses de gestação.
A enfermeira fez o parto no acostamento, a 50 quilômetros de
Santiago, tendo por testemunhas a mãe de Sílvia, Rosângela Escobar, e o
filho, Thiago Goulart Bender, 26 anos. Ao perceber que a criança não
conseguia respirar, Thamara começou a fazer respiração boca a boca e
massagem cardíaca no pequenino, que chegou ao mundo com 850 gramas.
– A sogra do meu filho não tem carteira de motorista, mas teve de
dirigir porque tentávamos acionar o Serviço de Atendimento Móvel de
Urgência (Samu), mas nenhum celular pegava. Fomos dirigindo até um posto
de combustíveis de Santiago quando conseguimos falar com eles – conta a
enfermeira.
Lucas foi levado de ambulância para o Hospital de Caridade de
Santiago, onde foi entubado e teve a respiração garantida por ventilação
manual. Como o hospital não tem UTI Neonatal, a criança precisava ser
transferida para Alegrete. Chegar lá, foi outro capítulo da batalha de
Lucas pela vida.
Uma ambulância do Samu de São Borja foi acionada para fazer o
transporte, mas os profissionais não sabiam chegar na Santa Casa de
Alegrete. No meio do caminho, pediram orientações a uma viatura da
Brigada Militar, que acabou servindo de escolta. Outro obstáculo para a
salvação de Lucas foram as más condições da estrada.
– Quando estávamos quase chegando, a ambulância entrou em um buraco, e
o Lucas extubou (os tubos presos à traqueia do bebê soltaram). Voltei a
fazer respiração boca a boca – lembra Thamara.
Na chegada ao hospital, o lado enfermeira deu lugar ao lado avó:
Thamara entrou na unidade com o neto nos braços gritando por socorro.
Nas horas seguintes, Lucas retribuiu com valentia o esforço dos médicos e
de seus familiares.
– Todo o prematuro é um paciente de risco, mas ele está estável e
toma 1ml de leite materno, por sonda, a cada três horas. Como recebeu
medicação para amadurecer os pulmões, ele já tenta respirar sozinho. Ele
passou por poucas e boas mas vai vencer – conta a enfermeira e avó,
cheia de orgulho e esperança.
Fonte:Diário de Santa Maria
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